RENASCER

 Deixei-me  envolver

Sem força para lutar

Vi minha vida morrer

Por ter medo de matar 

E  como  custa  perder

Quando queremos ganhar .

A  lei do  mais  forte

A vida  ou  a  morte .

Arranquei com desabafo

Amarras de  solidão

Correntes de ferro e aço

Que larguei por decisão

Agora comando a passo 

Os  passos do coração .

É a  paga  por  viver

Ganhar  ou  perder .

Parti sem qualquer meta

Saltibanco não sei de quê

Rapido como uma  seta 

“Procurando  por  você“

Tentei ser poeta

Ainda não sei  porquê !?

O  preço da nossa historia

Esquecimento ou memoria .

No  fim  da  vida  parei

Olhar  cruel  e  nefasto

Foi tudo o que encontrei

Um deserto árido e gasto

Não foi  isto  que  sonhei

Mas é por isso que m’afasto .

O temivel caminho encontrado

No fim  d’um “destino” errado .

Voltei então atrás no tempo

Ao meu  ponto  de  partida

Ceifei por mais um momento

As  algemas desta  ferida

Ofereci  meu  sofrimento 

Por troca d’um’outra vida ,

E por  todas  as que errar

RENASÇO , só  por te amar ...

                               Regensburg

                             09-05-2000

                                     Beija-Flor

MEU AMOR

MEU AMOR

Naquele tempo, a música fluía
Ecoando a força louca do desejo,
Escorregando como prata luzidia,
Nos teus lábios meu amor, pedindo um beijo.

Era o tempo, tempo quente da ceara,
E eu ansiava aquele código perfeito,
Onde com zelo colocavas a tiara,
E corrias meu amor, contra o meu peito.

Havia em nós secreta uma ternura,
Cúmplices palavras num poema de gemidos,
E tocava em nós o vento a partitura,
Por de amor, meu amor estarmos perdidos.

Morámos num só corpo em perfeição,
Na sede tremenda em que fecundo,
Um existir absoluto de paixão,
Que faz inveja, meu amor a todo o Mundo.

Regensburg
24-02-10
Beija-Flor 

NESTE POEMA

            

           NESTE POEMA

Brotaram de teus olhos quando viste,
Bailados que o vento confessou,
Num lugar que ainda não existe,
Distante do que agora começou.

Cada gesto, cada toque, um crescente
No meu peito desfolhado de memoria,
Inventei um Mar salgado no poente,
E escrevo agora em mim a nossa história!

Encheste-me de sonhos o olhar,
Paisagens fartas de aromas e cheiro,
Petrificaste num impasse a desejar,
Que para ti eu fosse o Mundo inteiro!

Juntos corremos pelos prados da alegria,
Seguros daquele amor, força maior,
Aconchegado pela luz que nos cingia,
E viver, não poderia ser melhor!

Escrevo agora o livro da saudade,
Lembranças que pra mim valem a pena,
Foste um dia no meu ser, eternidade
Que não cabe meu amor, neste poema!

Regensburg
23-02-10
Beija-Flor

LONGE

 

LONGE

Algures na calmaria serena,
Mora a distancia sombria,
Cresce a loucura terrena,
Em farrapos de saudade fria.

No longe, até onde avisto,
Crescem esperanças algures,
Por entre lajes de xisto,
Numa terra de nenhures.

É a saudade em surdina,
A distancia em mim marcada,
Para lá do que termina...

Na palma duma mão fechada,
São o principio e o fim,
Que se despede de mim...

Regensburg
03-02-10
Beija-flor 

 

COMPANHEIRA

COMPANHEIRA

Se o tempo de outras eras regressasse,

Cada pedaço de vida que valeu a pena,

E chamar recordação ao que ficasse,

Em deturpadas linhas dum poema.

Se o casto orgulho que fervilha,

Nos roubasse a sede ardente do desejo,

Não seria o Sol gelado que em mim brilha,

Quem matava a fome acesa do teu beijo.

Teria o rubro desespero doutra vida,

Em soluços de maldades e manhas,

Despertado em mim a besta adormecida,

Que corrói o egoísmo das entranhas?

Foi bom sentir contigo aquele lugar,

Onde do luar fizemos nossa cama,

Despedidas e regressos a atear,

O que em orgasmos loucos fôra chama.

Não calámos cruzadas palavras em vão,

Nos pensamentos que por ti eu naveguei,

E é tão bom guardar com emoção,

O quanto meu amor eu já te amei!!!

Regensburg

17-02-10

Beija-Flor

TERNURENTA

 

        TERNURENTA

Nas ondas do teu olhar,
Espelhos de água cristalina,
Navego horas sem par
Só por te amar,
Menina.

Faz-me teu corpo convencer,
Que existe a perfeição,
São fontes d´água a correr,
Onde vou dar de beber,
Ao coração.

Tua boca é um segredo,
Ramos de cravos em flor,
Fizeste-me perder mais cedo,
Não foi por medo,
Foi por amor.

Regensburg
15-02-10
Beija-flor  

AVENTURA

       AVENTURA

De preconceitos despidos,
Que inverno rude e confuso
Trago nas mãos gemidos
De sentimentos contidos
Frente a um sonho recluso.

Queria calar o grito,
Vazios, sempre mais vazos
Que suspirar tão aflito
Este amor em que medito,
Por descartar os acasos.

Em conventos me retiro,
São feridas de solidão,
Espicaçando meu suspiro,
Que me devora e deliro
Às portas da ilusão.

Será a última doutrina
De meu olhar a nascer,
Lágrima, triste menina
Na desventura divina,
Por te amar e te sofrer.

É tarde demais minha lança,
Nas cearas da amargura,
Queria de ti uma dança,
Talvez a eterna lembrança
De que foste uma aventura.

Regensburg
15-02-10
Beija-flor 

PERGUNTA

       PERGUNTA

Quantos riscos tem o muro,
Quem os fez?
Por que motivo,
Me acordou cedo a manhã,
Nesta página do livro?

Porque se debruça a montanha,
Nas fraquezas deste rio?
Quem teceu bem a Pessanha,
Contando o que não viu?

Quantas amarras nos prendem,
Que montanha nos detém?
As almas? A quem pertencem,
Se elas não são de ninguém?

Que longe será distante,
E quão rápido é depressa?
Se a vida dura um instante,
Haverá quem a mereça?

Que profundo é a profundidade,
Qual cor é o transparente?
Quantos anos tem a idade,
Deste mundo impertinente?

Indaga, não vires as costas,
Não desistas nem digas nunca.
Procura em ti as respostas,
Encontrarás as perguntas.

Regensburg
12-02-10
Beija-flor   

 

TU E EU

TU E EU

Dorme esta noite comigo,

Deitada em meu pensamento.

Musa de amor e castigo,

No renascer do rebento!

Vem voar nas minhas asas,

Amor de lume e de brasas!

Aconchega-te em meu ninho,

De cores e melodias,

Vem celebrar com vinho,

O significado dos dias!

Eu, tu e o pecado, os três,

Num amor que ninguém fez!

Fica comigo suspensa,

Em cabos presos a nada

Espelho onde o amor se condensa,

Em gotas de orvalhada!

A magia de Odin,

Nesta cama de jasmim.

Abraça-me como nunca antes,

Nas lezírias do apogeu

Em delicias suspirantes,

Meu amor de mar e céu.

O silencio é um desassossego,

Neste louco amar sem medo.

Foi no derramar da madrugada

Sem espada nem armadura

Teu peito no meu, abraçada,

No cansaço da loucura.

Brindamos ao futuro risonho,

Que conquistámos no sonho.

Beija-flor

15-02-10

Beija-Flor

INCONSTANTE

         INCONSTANTE

Não me venhas falar de amor ,

Nessa inconstante arte dissimulada...

Sabes ,

Por vezes deparo-me com pedaços de solidão

Espalhados em memorias e  fracassos ...

Queria meu amor ,

Ter a força de mudar o rumo,

Desgovernado destino .

Amei-te,

A ti coragem  ,

Naquela manhã cintilante de mimosas e papoilas .

No fresco do feno,

Rolavamos sem medo , sem limites pra sonhar .

Amei-te por aprender contigo,

No abandono do real ,

Decifrando segredos e sorrisos num olhar .

Amei-te,

Mas ,

Porquê dizer amei-te ?

Será que morreste comigo na despedida dos carvalhos ..?

Perdi-te, mas inda te sinto vacilante

Nas partidas e chegadas,

Dançando contra o meu peito ...

Roubando-me beijos á tardinha ...

Queria ter-te sentido,

Na arca do tempo ,

Presa a meus braços como correntes inquebraveis ,

em sentimentos puros e cristalinos

Junta  a mim

Sempre ,

Como gira o Mundo, sem cessar.

Julgava ter conquistado o sonho duma vida,

Que  percepcão fugaz.

Venerei teu rosto de giestas e alecrins,

Silencio doce e auspicioso

Por momentos , senti-me dono do mundo .

A ponte prá eternidade .

Quis-te como um passaro solitário,

Ansiando a demorada chegada da primavera ,

Esperando por ti,

Numa insustentável cumplicidade .

Mas não vieste ...

Chorei-te ..

Óh meu amor,

Foi aquele o tempo ,

Em que senti rasgar o arado dos sonhos .

As trevas se  abateram

Nas leguas do infinito ,

Duras,

Sobre as pedras da calçada ,

E num sofrimento abominável me deixei cair...

Sofri-te em cantos e poemas gigantes de magoas e sentidos ,

Numa dor calada  , ensurdecida .

Fui por ti

Terra queimada e destruida ,

Canteiros de fogo e sedução,

Que cortei aqueles tristes carvalhos,

Fazendo das tabuas meu caixão.

Regensburg

11-02-10

Beija-Flor

  

PRESO A TI

 

PRESO A TI

Liberta-me das raízes,

Na alvorada do despertar,

Rasgos de cicatrizes

Latejantes a magoar.

Não me roubes o sorriso,

Que uso como improviso.

Não me acuses da demora,

Na sedução que crepita,

Lenço que ainda chora

Nesta angustia tão aflita.

Não destruas a imagem,

Que moldei contra a coragem.

Junta-me as cinzas espalhadas

Sopro invisível no escuro,

Beija-me com vergastadas

Pois deste amor não me curo.

Saudade é sempre um lugar,

Que de ti eu vou guardar,

Desta alma, negra rosa,

Secando contra o calor,

Quero a paixão gloriosa

A bússola do teu amor.

É neste estático querer,

Que por ti volto a nascer.

Reordena-me os sentidos,

Estilhaçados na loucura,

Galera de mastros partidos

Numa noite sempre escura.

O preço do meu sofrer...

Amar amar e não te ter...

Regensburg

11-02-2010

Beija-flor

SE VIER

SE VIER

Que rumo dar á saudade

Se ao meu encalço vier?

Qual será meu beneficio

Se a seus pés eu me render?

A meta é sempre o inicio

Duma luta de morrer...

Que faço eu da loucura

Neste abraço proibido?

Sem palavras , sepultura

Amordaçando o que digo .

Timido buzio , ventura

Aguardando teu ouvido.

Em que direção me aguço

Se vieres sem marcação?

Onde afogar o soluço

Que nasceu sem ter razão?

Sobre este sonho debruço

O que fecho em minha mão!

Em que chamas vou arder

Se o diabo não venero ?

Que mentiras devo erguer

Se a justiça é meu imperio?

Vieste pra me perder

Mas não é isso que quero.

Será duro meu condão

Neste prenuncio , castigo?

Trazes no peito a ilusão

Acesa , veneno atido .

Não chegues desilusão

Meu sonho não é contigo.

Meu sonho tem utopia

Num mar ferido , rasgado.

Florestas de fantasia

Esquecidas do velho arado,

Não venhas negra magia

Já t’enterrei no passado.

Regensburg

      09-11-09

            BeijaFlor